10 novembro 2007

Sobre o Questionário

Vou explicar o porquê do questionário antes de me alongar noutras considerações. Durante o desenvolvimento do jogo, deparámos-nos com algumas situações que nos fizeram (e ainda fazem) considerar outro projecto. Esse projecto é, tal como dito no questionário, sério, coeso, comercial, arriscado, ambicioso e complexo.

Abordámos ao leve ou nem por isso, diversas pessoas. Explicámos o que queremos fazer e porque é que o queremos fazer. As respostas que obtivemos são válidas como é natural e não quero nem de perto nem longe beliscar essa validade, cada um sabe de si e entendemos a individualidade de cada um... ou que eu pessoalmente não entendo é a tipificação da resposta. Confusos? Eu explico! Sim! Eu sou amigo!

A verdade é que as respostas ao questionário e as respostas às nossas abordagens foram completamente distintas. Fica aqui uma comparação rápida.

Interesse geral em novos projectos
Conversas: Reticente ou descrente
Questionário: Tentado ou reticente

Motivos de escolha de um projecto
Conversas: Salário ou tecnologia
Questionário: Retorno de Investimento ou Realização

Projecto comercial complexo, etc...
Conversas: Não quero participar ou quero participar se...
Questionário: Quero participar

Projecto 2D
Conversas: Então não quero participar.
Questionário: É irrelevante ser 2D ou 3D

Projecto de investimento sem pagamento
Conversas: É preciso nós termos dinheiro antes do arranque
Questionário: Participo, mas expliquem-me como vai ser

Ou seja, não consigo retirar nenhuma conclusão. Tenho pena sim, que perante uma oportunidade exista quase uma recolha imediata a uma posição defensiva, seja por ser um projecto de investimento, seja por não ser um projecto 3D.

Preocupa-me que não haja o entendimento que um projecto 3D comercial não é exequível e tem um risco e, dentro deste contexto, concorrência, possa ser considerado como algo em que se investe tempo enquanto um projecto 2D sem concorrência e com o mercado a gritar por algo do género seja considerado como menor.

Como disse, não quero de forma nenhum invalidar as opções que cada um toma, até porque, conscientemente, na forma de um questionário, a esmagadora maioria respondeu como verdadeiros empreendedores. No entanto, em conversa, com o nosso subconsciente a proteger os nossos interesses mais subliminares, a verdade foi outra.

Aquilo que se persegue em Portugal é, infelizmente, salários que não existem e tecnologia que vai demorar a ser usada. E eu pessoalmente tenho pena que tal aconteça, porque o que precisamos é de empreendedores de base e de uma rede de ligações entre esses empreendedores, não de assalariadas na engorda num emprego de topo.

Acredito que as pessoas com quem falámos são genuinamente do melhor em termos pessoais e técnicos que conseguimos ter na comunidade de gamedev. Este post e estas conclusões não as devem ofender de nenhuma forma porque se estas pessoas reagiram assim, o que pensar dos que não têm a mesma qualidade nem pessoal, nem técnica.

O único sorriso a retirar desta análise é que há pessoas dispostas a empreender e a gerar essa rede e nós, por este questionário, aumentámos a nossa e a deles.

3 comentários:

Raistlin disse...

Eu acho que o gráfico diz principalmente "gato escaldado de àgua fria tem medo" tal como foi comentado no post do questionário. Mesmo não sendo directamente voltado para um jogo em particular, "novos projectos","investimentos", "apostas" é algo que nesta comunidade agora se liga à imagem que a APROJE fez passar quando começou.

Quem está atento agora teme.

Quanto a mim agora já sou a favor de arriscar. É mesmo preciso arriscar senão não se sai do mesmo sítio. Eu estou a arriscar neste momento e desejo toda a sorte aos que fazem o mesmo.

Tiago Sousa disse...

Acho que tudo passa por um problema de passividade, como alguém disse, para a fruta cair é preciso abanar a árvore. Não se pode ter ilusões, ou estar à espera de investimento para se criar um jogo, os game developers / game designers têm de perceber que é preciso mostrar 1º trabalho. Na maior parte das vezes é preciso haver um esforço extra fora das horas normais de trabalho e desenvolver os nossos projectos pessoais por prazer, não porque estamos à espera de enriquecer à custa deles, se o jogo for bom terá um retorno natural.

Vlad disse...

Passividade... ora aí está a palavra que me tem faltado para descrever o que eu acho.

As questões chave que falas são o que nós temos defendido no nosso trabalho: esforço, mesmo com dois empregos, mesmo fora de horas. Primeiro mostrar trabalho, depois procurar soluções, etc, etc, etc...