17 outubro 2007

Não me parece...

Quando entrei para a escola primária era muito pequeno e introvertido. A minha professora disse à minha avó: "Não me parece que o menino consiga aprender."

Mais tarde, já rapazola, uma cigana leu-me a mão e disse-me: "Não me parece que vás ter sorte com mulheres."

Quando saí da escola e arranjei o meu primeiro emprego numa loja de informática, os temas de conversa na minha família eram: "Não me parece que vá ter um bom emprego."

No segundo emprego que tive fui despedido e disseram-me: "Assim, não me parece que vás ser alguém."

E podia continuar durante um bom bocado com mais uns quantos "não me parece's" e outras demonstrações de faltas de fé e opiniões que eu não pedi. Ao fim de tanto tempo até me conforta ouvir "não me parece que tenhas feito bem" e "não me parece que isso seja bem assim" porque diz-me a experiência que afinal fiz bem e afinal é assim. Preocupa-me mais quando me dizem que concordam.

Bottom-line é que a esmagadora maioria da população, a quem eu carinhosamente alcunho de normaloides, não toma decisões. Pelo contrário, segue um roteiro pré-definido de caminhos previamente testados por gerações a fio. Quando parece que ponderaram sobre um assunto e tomaram uma decisão, na verdade apenas seguíram uma via confortável, como todos os outros normaloides, num movimento infindável de rebanho social.

As figuras reconhecidas, seja globalmente seja contextualmente, tomaram decisões por si, normalmente contrárias à norma. O resultado de se fugir da normalidade da acção é normalmente a ruína e a desgraça, logo é natural que adopte o caminho normaloide. Por outro lado existe uma pequena percentagem de fuga à normalidade que se traduz em sucesso.

Não quero com este post dizer que atingi esse sucesso. Só o poderei medir quando for velhote. Assumo sim que apesar de todos os "não me parece" que já ouvi, insisto em tomar decisões pela minha cabeça e a viver no risco de atingir sucesso ou ruína, mas nunca normalidade.

Normalidade é chata.

6 comentários:

Marco disse...

é a diferença entre acreditar em deus (ou no destino para os ateus) e acreditar em nos proprios.

Unknown disse...

Depois de ler isto vou começar a considerar um elogio cada vez que me disserem que não sou normal XD
Mas neste contexto não sou mesmo um dito normal. O meu pai quer que eu siga informática/programação num ramo onde seja mais provável que eu tenha sucesso/ arranjar um trabalho igual ao de milhoes de pessoas. Mas eu insisto em querer seguir uma área onde apesar de trabalharem milhares em Portugal trabalham o quê? Umas 5 ou 6 dezenas?(vejam só a hipérbole)
Pah a mim já me leram a sina e disseram que vou ter uma vida com altos e baixos que só vai acalmar lá para o final. Espero que essa calma seja passada a jogar os jogos que "eu" fiz...

Vlad disse...

@Pitation Master

Gosto desse ponto de vista.

@Elf

Será que o teu pai acha que é um emprego principescamente remunerado? É que esse foi chão que já deu uvas...

Unknown disse...

Bem, seguindo então a tradição:

Não me parece... que o teu jogo vá ser um sucesso!

Pronto, vamos ver se resulta! :-P

Raistlin disse...

Normalidade é assustadora.

Há anos que se me dizem "epá, és um gajo normal..." mesmo que seja no meio de uma conversa inocente, eu fico um pouco ressentido. Normalidade é ir com o rebanho, é ter um emprego enfadonho e ter "quartas feiras do bowling" e "sextas do poker" ou qualquer coisa normalóide e rotineira que sirva para extravasar toda a necessidade de fuga à rotina, toda numa dose controlada ebem medida, uma vez por semana.

Anti-rotina dentro da rotina, sempre rotina.

Decidir pela própria cabeça é de homem!

Vilaca disse...

bom post

gostei

cumps