09 outubro 2007

O que eu vejo

Tirei uma senha, marcava o nº10. Faltavam 5 minutos para o inicio do atendimento a que a minha senha se destinava. Entre a confusão de uma sala confinada e um rápida fugida ao café, optei pelo café. Entrei e dirigi-me ao balcão. A visceral voz bagaceira da empregada perguntou-me o que eu queria e pedi o tal café.

Eram 9 horas e 50 e qualquer coisa minutos da manhã.

Olhei à volta e vi um casal jovem, ele com um Sagres média, ela com uma imperial. Um outro casal sentado numa mesa, ele brasileiro a falar de quantas coisas boas o Brasil tem, ela, portuguesa a concordar "que Portugal não vale nada", ambos a beber cerveja. Noutra mesa um velhote olhava para o trânsito na rua com as mãos numa velha bengala e não bebia nada. Encostado ao balcão, outro homem, sujo, sem cuidado, muito macho, buburricava uma bebida espirituosa que não consegui identificar. Entre o meu café e olhar para quem me rodeava, passaram os 5 minutos que faltavam para se iniciar o atendimento para o qual eu tinha senha.

Eram 10 da manhã, mais coisa menos coisa.

Por momentos não fiquei incomodado com o facto de não ter cortado a barba e não me ter preocupado por estar de fato de treino. Por momentos olhei à volta e vi o quão decadente é a classe média portuguesa. É uma classe média que bebe, uma classe média que não tem horários, que não tem cuidados, que se despreza e se queixa de ser desprezada. Somos todos nós que não cumprimos um horário, um objectivo, um prazo e que não temos consciência que é esse o atraso do nosso país.

O atraso do nosso país somos nós. Culpamos governos, dizemos que não faz mal fazermos mal porque os outros também o fazem e "isto é dos espertos". O que eu vejo é isto... e tu?

4 comentários:

Raistlin disse...

Apesar de já não viver na cidade nem ter pausas para o café, é isso que vejo. Há bastante tempo que me deparei com essa "aparição" e tive medo dela. Não quero acabar assim e tenho feito todos os possíveis para que o meu caminho seja bem diferente.

Caminho a todos os níveis, principalmente o intelectual.

Tu falas dos que viste no café, mas eu tenho uma noção do que está a ocupar carteiras na escola hoje em dia e tenho medo. É uma geração que parece idolatrar essa e todos os seus passos parecem ir nessa direcção.

Se esta é a imagem que passa para fora não me orgulho de ser português, antes pelo contrário.

Unknown disse...

Hoje assisti a uma "palestra" de um homem que trabalha há quinhentos anos na união europeia. Ele dizia como hoje em dia nos podemos safar indo para fora onde nos pagam mais e fazemos o mesmo. É isto que acho do nosso pais. emigramos todos para algo melhor, nunca queremos trabalhar para criar esse melhor.
Apesar de eu querer ir para o estrangeiro um dia também quero voltar. Quero ir ao estrangeiro numa de formação e voltar numa de ser inteligente que ajuda isto a desenvolver-se.
Talvez não o consiga fazer, talvez goste do estrangeiro...ainda sou um rapaz novo...

Vlad disse...

Desde que não voltes com graus académicos que não tens e curriculo que não te pertence, estás à vontade.

DiogoNeves disse...

Epá... eu estudei no MIT e sinceramente... aquilo não é grande coisa... não tem condições e os projectos são maus!!! Mas hoje sou doutorado e em breve vou comandar uma legião de tropas que pretende conquistar o mundo através dos jogos!!!