10 abril 2008

Os fóruns na rádio e na TV

Falei, noutras andanças de escrita internética, de fóruns. Não sobre os que se encontram na net, embora tenham uma boa dose de parecenças com os que venho falar, mas sim dos de TV e rádio. Estes caracterizam-se por terem um tópico, normalmente "escaldante", linha aberta para intervenções dos espectadores e ouvintes que esperam em fila indiana pelos seus dois minutos de opinião.

As pessoas que participam nos fóruns têm uma característica peculiar e enervante: a opinião delas é que conta e a dos outros é irrelevante, excepto se concordarem linearmente com o que dizem. Ou seja, não há um verdadeiro debate, característica aliás, tristemente em voga nos dias de hoje, mas sim um sem número de argumentos que levam a conclusão nenhuma.

Para uma pessoa inteligente, e sim, considero-me inteligente, é possível retirar o sumo dos dois lados da barricada, entender o problema e, com tempo, tecer o seu próprio julgamento. Presumo que a maior parte das pessoas que pensam assim sejam uma espécie estranha de bloco central da opinião pública, nem liberal, nem conservador, mas cada vez mais em extinção. Considero esta extinção infeliz porque é este grupo de pessoas que vê além do seu umbigo, do seu dogma e que é capaz de fazer propostas racionais para o bem geral e não próprio.

É que nada me tira da cabeça que quem defende opiniões extremadas o faz porque protege os seus interesses e defende a sua visão limitada da realidade local, nacional e mundial. Apenas e só estes interesses lhes interessam e estão tão obcecados por eles que nos fóruns são incapazes de reflectir e pensar "aquele argumento é válido, logo, como é que podemos encontrar uma solução ajustada"?

E daqui nasce, nos fóruns, nos debates parlamentares, nas discussões do quotidiano e noutros tantos casos, uma enorme incapacidade de compreensão e percepção do âmbito do outro.

Lembro-me de ser miúdo e de ver na TV uma intervenção onde o Dalai Lama dizia que passámos do "EU" medieval para o "NÓS" da era industrial e que a sociedade iria evoluir para o "TU" e o VOCÊS" da era seguinte. Temo que o Dalai Lama estivesse errado e que na verdade estejamos a consumir a nossa própria humanidade num "EU MESQUINHO" potenciado pela sociedade de informação. A facilidade com que exponho os meus pontos de vista neste blog é igual à de muitas outras pessoas, a esmagadora maioria sem capacidade de se distanciar do seu umbigo e de olhar nos olhos de quem a interpela.

É triste, mas somos cada vez mais egoístas.

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