17 setembro 2007

Infertilidade e Religião

Tomei conhecimento que a igreja católica considera a prática de tratamentos de Reprodução Medicamente Assistida - para quem não sabe, aquilo que 1/6 dos casais portugueses passa para ter filhos - como imoral. Também me dei conta que outras religiões comungam do mesmo principio.

Fui aqui ler a um dicionário de quando a minha mãe andava na escola, mais precisamente no 2º ano, ou seja algures nas lides do antigo regime para me situar sem sombra de dúvida na mesma definição de imoral de uma qualquer religião e no mesmo diz:

imoral - adj. 2 gén. contrário à moral; falto de moral; mal comportado; desonesto; escandaloso; devasso.

Gostaria de chamar a vossa atenção para o sinónimo desonesto.

Será a religião desonesta? De forma alguma, mas as igrejas que as alicerçam e não menos importante as pessoas que no topo das hierarquias dessas igrejas se encontram tão despegadas dos seus fieis, são, no mínimo, intelectualmente desonestas.

Desonestas porque falam sem saber como um padre que acha que o facto de o ser lhe dá direito de falar sobre aborto, infertilidade e família que ele apoie e sustente quando ele não a tem, não a teve e nem a pode ter. Desonestas porque professam sem praticar como um líder religioso que defende que o bloco central da sociedade é o homem e não o casal ou a família quando até nas escrituras da sua própria religião a mulher tem igualdade de direitos.

O Sr. Januário (por acaso toda a gente o trata por D. Januário mas eu não sou dessas coisas) diz que inseminações e outros tratamentos de infertilidade são moralmente condenáveis mas que não dão direito a penas pesadas como a excomunhão. Ufffff... ainda bem... estava aqui que não me aguentava de medo de ser excomungado por querer ter um filho.

O Sr. Januário não passou o que eu passei. O Sr. Januário e todos os lideres religiosos que não casaram, que não tiveram problemas matrimoniais, que não sabem o que é viver lado a lado com um ser de carne e osso não têm moral para emitir opiniões e quem não tem moral, é imoral. Eu não partilho a minha casa, as minhas dores, as minhas crenças com algo inatingível, que tudo ouve e tudo perdoa. Bem sei que na cabeça dessas pessoas elas é que são as iluminadas. Talvez no reino de faz de conta das igrejas, porque na vida real das pessoas a sério, é o dia a dia que conta, não a definição de moral de pessoas intelectualmente desonestas, logo, intelectualmente imorais.

A todos os lideres de todos os credos religiosos que defendem que a imoralidade condenatória daquilo que não conhecem: considerem-se excomungados da grande religião que é a vida e o humanismo e mantenham-se enclausurados na vossa percepção de realidade talhada à forma de continuarem a viver de dar apoio supostamente moral às mentes que vós próprios haveis ajudado a criar... assim... fraquinhas.

Se a entidade que estas pessoas defendem existe... onde está a justiça das crianças que nascem viciadas na heroína que a mãe injectou nas veias? Se existe, onde esta a moral das crianças que são maltratadas e largadas como dejectos nas instituições de solidariedade social? Se existe porque é que centenas de milhares de pais que querem ter filhos não os têm e milhares de pais que não os querem têm? Expliquem-me sem usar os chavões do costume onde porra está a moral disto e a vossa, oh grandes senhores das religiões.

Se esta entidade existe e me conhece a mim e à minha mulher e acha que nós não somos dignos de ter um filho e deixa milhares de crianças nascer em condições sobrehumanas... lixou-se... porque vamos mesmo ter um e se o resultado de trazer uma criança ao mundo e fazê-la um ser humano feliz e com valores é a excomunhão... venha ela, vou recebê-la de braços abertos.

Se o meu preço por fazer uma criança feliz é arder nos quintos dos infernos... seja... por essa altura já fiz mais do que os Dons todos juntos.

2 comentários:

AEsperanca disse...

Muito bem :). Eu também quero morrer nos quintos dos infernos e bem rapidamente ;).
Sandra PEIXEIRO

Unknown disse...

really deep!...