Li ou ouvi não sei bem onde que o papel dos pais é impor regras e o dos filhos é negociá-las. Este ponto de vista pode ser visto, sem grande dificuldade, na própria evolução do ser humano em termos de sociedade.
Agora que me encontro num estágio intermédio da minha vida, em que sou filho, neto e sobrinho de alguém, mas em que assumo os papeis de tio, padrinho e daqui a umas semanas de pai, penso nisto com maior seriedade e assiduidade e embora seja critico em relação a tudo o que me rodeia, tento e espero conseguir, aprender com os erros dos que me rodeiam e com os meus a ser uma pessoa melhor, neste caso, um pai melhor.
O exemplo destes erros, ligados ao papel de progenitor criador de regras, baseiam-se principalmente na minha família. É que eu raramente me encaixei no standard que a minha família gostaria que eu fosse embora comecem agora a entender e a suportar as minhas decisões no meu papel de negociador de regras.
Isto aconteceu variadas vezes. Quando decidi deixar de estudar para ir trabalhar para uma loja de informática, a minha avó, senhora austera a quem devo a minha educação e criação, perguntou se não era melhor eu ir trabalhar lá para perto dela, nos SMAS de Almada, nas oficinas de reparação de contadores da água. "É uma coisa certa" dizia ela, mas eu fui para a loja de informática. Entretanto fui à tropa (sim ainda havia serviço militar obrigatório) e quando voltei quis ir para outro lado, expandir a minha experiência e correu francamente mal. Como se diz na gíria "fizeram-me a cama" e eu, tolo e pouco experiente, ajudei a fazê-la.
Claro que entre a pressão da família por ter sido despedido e aparente falha das minhas decisões levaram outra vez à conversa "da coisa certa", do "não sabes o que fazes", mais umas oportunidades de trabalhar "nos computadores da Câmara". Mas eu estava convicto que sabia o que fazia e tinha um plano. Dias depois, estava a trabalhar numa empresa de informática. Foram anos dourados aqueles. Comprei casa própria mas continuei com a minha avó até que a necessidade de espaço próprio me levou a sair.
Claro que as expectativas familiares eram que eu estava a fazer uma asneira. Porque não ganhava muito, porque não sabia fazer nada, porque era um cabeça no ar e fosse o que fosse. Assumo publicamente e pela primeira vez na minha vida que passei fome e muita, mas mantive-me firme no meu plano. Depois casei e finalmente parecia que tinha atingido o tal standard que a família tanto deseja.
Mas não... quando a empresa onde estava faliu trabalhei por conta própria e mais tarde fui contratado para uma outra, a maior onde estive e das maiores em território nacional, pelo meu currículo que só existia devido às minhas decisões, as tais sempre questionadas porque "não é certo" e porque "não sei o que faço".
E há algum tempo atrás, pouco passado dos 30 anos, falei com a minha mulher e decidi traçar um plano para entrar no gamedev. "Ai ele vai deixar um emprego tão bom" e ninguém reparou que só o tive e só o deixei porque "não sei o que ando a fazer". Sem querer puxar de galões, olho para os papeis que desempenhei, para o trabalho que fiz, para a família e a casa que tenho e é estranho observar que se morresse agora seria o mais bem sucedido de sempre da história da minha família e mesmo assim, permanecem as dúvidas sobre eu saber ou não o que estou a fazer.
Esta blogada já vai longa, mas o que é importante observar aqui é que todas as pessoas mais velhas do que eu, da minha família ou não, que colocam em causa o que é que eu ando a fazer, bem mais novas do que eu passaram pelo mesmo. Elas também foram questionadas e as que sobressaíram fizeram-no porque não seguiram o standard, o conjunto objectivo de regras que lhes foi imposto. Negociaram-nas e entre vitórias e derrotas, marcaram o seu lugar.
Por isso pergunto: porque é que se esqueceram?
Escrevi isto aqui para que eu não me esqueça, porque embora vá impor regras quero entender o teor da negociação baseada na minha própria experiência e não no standard social.
Agora que me encontro num estágio intermédio da minha vida, em que sou filho, neto e sobrinho de alguém, mas em que assumo os papeis de tio, padrinho e daqui a umas semanas de pai, penso nisto com maior seriedade e assiduidade e embora seja critico em relação a tudo o que me rodeia, tento e espero conseguir, aprender com os erros dos que me rodeiam e com os meus a ser uma pessoa melhor, neste caso, um pai melhor.
O exemplo destes erros, ligados ao papel de progenitor criador de regras, baseiam-se principalmente na minha família. É que eu raramente me encaixei no standard que a minha família gostaria que eu fosse embora comecem agora a entender e a suportar as minhas decisões no meu papel de negociador de regras.
Isto aconteceu variadas vezes. Quando decidi deixar de estudar para ir trabalhar para uma loja de informática, a minha avó, senhora austera a quem devo a minha educação e criação, perguntou se não era melhor eu ir trabalhar lá para perto dela, nos SMAS de Almada, nas oficinas de reparação de contadores da água. "É uma coisa certa" dizia ela, mas eu fui para a loja de informática. Entretanto fui à tropa (sim ainda havia serviço militar obrigatório) e quando voltei quis ir para outro lado, expandir a minha experiência e correu francamente mal. Como se diz na gíria "fizeram-me a cama" e eu, tolo e pouco experiente, ajudei a fazê-la.
Claro que entre a pressão da família por ter sido despedido e aparente falha das minhas decisões levaram outra vez à conversa "da coisa certa", do "não sabes o que fazes", mais umas oportunidades de trabalhar "nos computadores da Câmara". Mas eu estava convicto que sabia o que fazia e tinha um plano. Dias depois, estava a trabalhar numa empresa de informática. Foram anos dourados aqueles. Comprei casa própria mas continuei com a minha avó até que a necessidade de espaço próprio me levou a sair.
Claro que as expectativas familiares eram que eu estava a fazer uma asneira. Porque não ganhava muito, porque não sabia fazer nada, porque era um cabeça no ar e fosse o que fosse. Assumo publicamente e pela primeira vez na minha vida que passei fome e muita, mas mantive-me firme no meu plano. Depois casei e finalmente parecia que tinha atingido o tal standard que a família tanto deseja.
Mas não... quando a empresa onde estava faliu trabalhei por conta própria e mais tarde fui contratado para uma outra, a maior onde estive e das maiores em território nacional, pelo meu currículo que só existia devido às minhas decisões, as tais sempre questionadas porque "não é certo" e porque "não sei o que faço".
E há algum tempo atrás, pouco passado dos 30 anos, falei com a minha mulher e decidi traçar um plano para entrar no gamedev. "Ai ele vai deixar um emprego tão bom" e ninguém reparou que só o tive e só o deixei porque "não sei o que ando a fazer". Sem querer puxar de galões, olho para os papeis que desempenhei, para o trabalho que fiz, para a família e a casa que tenho e é estranho observar que se morresse agora seria o mais bem sucedido de sempre da história da minha família e mesmo assim, permanecem as dúvidas sobre eu saber ou não o que estou a fazer.
Esta blogada já vai longa, mas o que é importante observar aqui é que todas as pessoas mais velhas do que eu, da minha família ou não, que colocam em causa o que é que eu ando a fazer, bem mais novas do que eu passaram pelo mesmo. Elas também foram questionadas e as que sobressaíram fizeram-no porque não seguiram o standard, o conjunto objectivo de regras que lhes foi imposto. Negociaram-nas e entre vitórias e derrotas, marcaram o seu lugar.
Por isso pergunto: porque é que se esqueceram?
Escrevi isto aqui para que eu não me esqueça, porque embora vá impor regras quero entender o teor da negociação baseada na minha própria experiência e não no standard social.
5 comentários:
Estou em águas semelhantes... neste caso, em que se eu não proceder para o segundo ano de mestrado de Design (aproveitando o facto que estou a terminar o quarto ano "falecido" com disciplinas de mestrado de primeiro ano), e se quiser ir para outro mestrado, não vou ter direito a nenhum suporte económico.
Isto vindo daqueles que me disseram que me dariam todo o apoio que precisa-se, fosse para onde fosse.
Ou então foi como uma cena triste de que me recordo quando terminei o 9.º ano, e a minha mãe ficou furiosa ao saber que eu queria antes ir para Artes do que Cientifico-Natural.
Estou numa situação em que realmente não sei o que fazer. Os meus pais estão com espectativas demasiado altas, em relação ao que eu sei fazer (e ao que não sei fazer), e dentro do campo do Design, "Game Design" e GameDev são de momento os que me entusiasmam mais. Não sei porque, de certeza que isto não tem apenas a haver com o facto de ser uma gamer amadora. Eu gosto de planear estratégias para jogos, seja a parte da história ou de gameplay, consigo mais facilmente escrever um Design Doc (apesar de ainda não ter estudo muito sobre isto), com todos os detalhes importantes sobre um jogo, do que sobre um projecto de sinaletica para o museu. Mas continuo a sentir que mesmo que esta seja a minha área, ainda me falta alguma coisa. E não sei o que é.
Só que, claro, os meus pais, se eu tiver duas oportunidades de emprego, uma numa empresa de design, ou simplesmente uma grande empresa, e outra numa empresa pequena dedicada a jogos, vão-me dizer "Vai para onde quiseres", mas torcem o nariz, porque preferiam que eu fosse para a outra. E como há casos de azar em que uma empresa pode falir, ainda mais carregam em cima do nós, com o costume "Eu bem te avisei!"
Eu não vou responder directamente à parte mais pessoal do post (podemos sempre falar pessoalmente ihih) mas gostava de comentar a parte mais "social".
A mim parece-me que todos (seres humanos), por natureza, vivem com medo. Tanto pode ser animais como outra coisa qualquer! A verdade é que todos temos, pelo menos, um!
O standard social e o tal "caminho certo" aparecem como consequência do medo de falhar na vida (basta ler o teu post anterior para perceber o que entendo por falhar). O que me parece que o "comum mortal" ainda não percebeu é que, se todos seguirmos o standard seremos todos iguais, logo, qualquer oportunidade que apareça (de emprego ou não) é por mera sorte e não por mérito porque, qualquer um conseguia o mesmo!
São as pessoas que escolhem os "caminhos errados" que, no final, acabam por sobressair e conseguir o que querem (ok, há excepções!).
Mas ainda bem que assim é! Assim posso ter mais esperança de um dia "sobressair no meio da multidão", mesmo que ninguém me veja! lol
Para terminar, sempre ouvi dizer que "quem não arrisca não petisca!"
VIVA LA REVOLUCION, CARAGO!
PS: Acho que o filme "Em busca da felicidade" explica bem esta questão e VLAD, VAIS TER DE O VER!!!! (ou já viste? lol)
@Kosmic: Já vi! :)
@C.G.: Do que vi dos teus trabalhos no GD-PT, diria que em algum tempo entras para a industria do gamedev. Talvez não pelo design, mas... :)
vlad? nao vais preferir que a tua filha tenha uma vida confortavel sem ter que arriscar o seu bem estar? tu próprio vais-te esquecer disso assim que tiveres o bebé ao colo (sim, diz-se O bebé, mesmo que seja menina).
ninguem quer ver os seus a passar fome, ou a arriscar na vida. os meus pais nao perecem ralar-se muito, mas dizem sempre "Desde que saibas o que estás a fazer..." e eu lá com pésinhos de lá e alguma calma vou construindo algo sério.
pá eu acho que se resume a nao querer que os nossos passem pelo que nos passamos. mas também... é o ciclo normal das coisas. senao também que raio de mariconços vao ser quando crescerem?
se fizesse o que a minha familia esperasse de mim seria um infeliz cheio de dinheiro.
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