Permitam-me que vos conte duas histórias rápidas.
Nem me lembro quando isto aconteceu, mas já lá vão uns meses muito largos. A minha mulher telefona-me porque a fazer uma manobra no parque de estacionamento do prédio onde trabalha tinha tocado num carro, um qualquer Mercedes dos muitos que para lá andam. Embora não existissem marcas visíveis no carro estava genericamente preocupada com o evento, de tal forma que procurou o dono do carro que ficou espantado com o facto de, mesmo sem danos que se vissem, alguém se ter tido a preocupação de o procurar. Não se passou nada de facto, mas eu pessoalmente fiquei espantado com o espanto do homem.
Hoje, passava pouco do meio-dia, a minha mulher foi atingida por um carrinho de compras na barriga. O evento assemelhou-se a um abalroamento despreocupado de uma senhora que simplesmente não teve o cuidado de desviar o carro de uma mulher notoriamente grávida, afinal, seis meses e meio notam-se bem à brava. Os ovos de chocolate para os nossos afilhados, uma tábua de engomar e mais qualquer coisita, foram para o chão enquanto eu a tentava amparar. A Sónia dizia que lhe doía a barriga e tinha deixado de ver momentaneamente. Chorava abundantemente, do choque, do susto, do stress motivado pela falta de cuidado da senhora do carrinho. A senhora perguntou uma vez se estava tudo bem, desapareceu dizendo que ia chamar um segurança e foi-se embora, continuar a fazer as suas compras, afinal, já tinha chamado o segurança e talvez estivesse com pressa, não sei, porque foi-se embora depressa demais para eu sequer lhe ver a cara.
E lá ficámos nós, agarrados à barriga da Sónia que ainda tem dores da pancada que levou. Um par de pessoas aproximaram-se, uma chamou um empregado, outra arrumou para um canto o que espalhámos no chão, dezenas passaram a dizer "ah coitada" e "as pessoas não têm cuidado nenhum".
Não foi um "mimo", pois durante algum tempo permaneceu a marca da pancada. Fomos ao hospital e está tudo bem, mas nestas alturas tenho vergonha de viver numa sociedade onde tão poucos se preocupam sequer pelos bens materiais dos outros e tantos não se preocupam sequer com o bem estar físico e emocional de uma mulher grávida que, por falta de cuidado e pressa na merda das compras, albarroaram violentamente. Duas pessoas pararam, dois empregados do espaço comercial atenderam-nos com todas as diligências, quem nos atropelou e dezenas de pessoas que viram, não fizeram nada a não ser cagar sentenças. É assim que vivemos. Sociedade? Bichos, animais, rostos sem alma, descaracterizados, desumanos. São estes eventos (e tinha mais uns quantos para contar) que me fazem pensar se valerá a pena preocupar-me com o próximo, se o próximo que vem a seguir, não se preocupa sequer com um feto de seis meses.
A essa senhora, que nunca lhe aconteça nada de mal, mas se acontecer, que tenha o mesmo calor humano que sentimos dela. A quem tem muito para falar e pouco para fazer, quando for a vossa vez, não se queixem.
Nem me lembro quando isto aconteceu, mas já lá vão uns meses muito largos. A minha mulher telefona-me porque a fazer uma manobra no parque de estacionamento do prédio onde trabalha tinha tocado num carro, um qualquer Mercedes dos muitos que para lá andam. Embora não existissem marcas visíveis no carro estava genericamente preocupada com o evento, de tal forma que procurou o dono do carro que ficou espantado com o facto de, mesmo sem danos que se vissem, alguém se ter tido a preocupação de o procurar. Não se passou nada de facto, mas eu pessoalmente fiquei espantado com o espanto do homem.
Hoje, passava pouco do meio-dia, a minha mulher foi atingida por um carrinho de compras na barriga. O evento assemelhou-se a um abalroamento despreocupado de uma senhora que simplesmente não teve o cuidado de desviar o carro de uma mulher notoriamente grávida, afinal, seis meses e meio notam-se bem à brava. Os ovos de chocolate para os nossos afilhados, uma tábua de engomar e mais qualquer coisita, foram para o chão enquanto eu a tentava amparar. A Sónia dizia que lhe doía a barriga e tinha deixado de ver momentaneamente. Chorava abundantemente, do choque, do susto, do stress motivado pela falta de cuidado da senhora do carrinho. A senhora perguntou uma vez se estava tudo bem, desapareceu dizendo que ia chamar um segurança e foi-se embora, continuar a fazer as suas compras, afinal, já tinha chamado o segurança e talvez estivesse com pressa, não sei, porque foi-se embora depressa demais para eu sequer lhe ver a cara.
E lá ficámos nós, agarrados à barriga da Sónia que ainda tem dores da pancada que levou. Um par de pessoas aproximaram-se, uma chamou um empregado, outra arrumou para um canto o que espalhámos no chão, dezenas passaram a dizer "ah coitada" e "as pessoas não têm cuidado nenhum".
Não foi um "mimo", pois durante algum tempo permaneceu a marca da pancada. Fomos ao hospital e está tudo bem, mas nestas alturas tenho vergonha de viver numa sociedade onde tão poucos se preocupam sequer pelos bens materiais dos outros e tantos não se preocupam sequer com o bem estar físico e emocional de uma mulher grávida que, por falta de cuidado e pressa na merda das compras, albarroaram violentamente. Duas pessoas pararam, dois empregados do espaço comercial atenderam-nos com todas as diligências, quem nos atropelou e dezenas de pessoas que viram, não fizeram nada a não ser cagar sentenças. É assim que vivemos. Sociedade? Bichos, animais, rostos sem alma, descaracterizados, desumanos. São estes eventos (e tinha mais uns quantos para contar) que me fazem pensar se valerá a pena preocupar-me com o próximo, se o próximo que vem a seguir, não se preocupa sequer com um feto de seis meses.
A essa senhora, que nunca lhe aconteça nada de mal, mas se acontecer, que tenha o mesmo calor humano que sentimos dela. A quem tem muito para falar e pouco para fazer, quando for a vossa vez, não se queixem.
5 comentários:
Espero mesmo que esteja tudo bem com a Sónia e a "feijoca". Isso não se faz a ninguém.
Ainda há pouco estava no metro e quando dei o meu lugar de forma a possibilitar que um casal de jovens namorados se sentasse lado a lado ficaram tão espantados e agradecidos... Eu não tinha de fazer aquilo, ambos estavam bem fisicamente mas eles vinham tão contentes que não queria interromper.
Não faço aos outros o que não quero que me façam a mim.
Um beijinho à Sónia e espero que esteja tudo bem com ela e com a bebé.
Tens toda a razão. Deviam usar-se mais vezes palavras tão simples como: desculpe; obrigada e precisa de alguma coisa?. Era muito mais bonita a vida, mas também ninguém nos disse que isso ( a vida) ia ser fácil.
Pensa (porque é verdade) que muitas vezes também encontramos pessoas boas que para além das palavras também conseguem ter atitudes bonitas. Valha-nos isso!:)
:( Grande Vlad, espero que esteja tudo bem com a Sónia e com a Bébé... Não existe mesmo civismo nesta sociedade... Ainda por cima dá de frosques.
Um grande abraço para os três
Há uns anos atrás, o meu pai teve um acidente de carro, quando estava a fazer a distribuição de leitões assados, com um colega dele. Vários leitões ficaram espalhados pela berma, entretanto o meu pai, meio confuso, telefona à minha mãe, a policia chega ao local. Não houve feridos graves, mas deram-se conta de pessoas a passar de carro na estrada, a abrandar, abriam a porta, agarravam num dos leitões caídos, e iam-se embora.
Outra historia ainda mais triste. Não sei se lêem o Jornal de Noticias, mas na semana passada, tinha como uma das noticias de destaque, um homem da restauração morto a tiro, que deixou uma mulher e um bebé de 2 meses. Acontece que o patrão do meu pai conhecia-o como fornecedor, e mal soube que ele tinha morrido, foi logo telefonar ao banco para cancelar todos os cheques de pagamento direccionados ao falecido.
Este homem tinha sido morto por causa de dividas... porque pessoas como o patrão do meu pai pagavam-lhe com cheques sem cobertura.
Eh, bela sociedade.
Espero que corra tudo bem convosco e com a pequenina.
Obrigado a todos(as) pelos comentários e pelo apoio e sim, está tudo óptimo, foi mais o susto do que outra coisa.
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