Enviei esta noite a carta abaixo transcrita ao nosso Presidente da República na sequência da dúvida colocada pelo mesmo sobre o número de nascimentos em Portugal. Os motivos são óbvios e estritamente pessoais. O tom é pessoal, honesto e aberto. Gostava que por isso chegasse ao destinatário da mesma, mas tenho pouca esperança que tal aconteça.
Para quem se considera um cidadão activo o suficiente para tomar um partido de uma causa justa, não se iniba de usar este blog, o meu nome e este texto para ajudar esta causa que é traumatizante para uma parcela considerável da população portuguesa e naturalmente prejudicial para o próprio país.
Ex.mo Sr. Presidente da Republica
No seguimento da questão colocada por V.Exa relativamente ao nascimento de poucas crianças em Portugal, faço-lhe chegar estas palavras pelo meio que me é mais conveniente, a Internet, para tentar esclarecer, ou pelo menos apresentar o meu ponto de vista, partilhado por dezenas de milhares de portugueses, escondidos pela estatística ou pela falta dela.
Admito que tenho pouca esperança que esta mensagem lhe chegue e admito também que espero uma mensagem de um assessor seu, a agradecer o meu contacto e pouco mais do que isto, mas pelo menos tentei cumprir o meu dever enquanto cidadão português, na tentativa de esclarecer a dúvida que compreendo que V.Exa tenha, porque a informação é escassa e a que existe, um espécie de tabu sujo e socialmente mal aceite.
Em poucas palavras: em Portugal existem 500.000 casais que sofrem de infertilidade, dos quais poucos terão hipótese de aceder aos cuidados médicos que fariam com que cerca de 400.000 desses casais tivessem filhos nas primeiras tentativas desses tratamentos. Não acedem a esses cuidados porque não têm dinheiro para o fazer. Sei do que falo, infelizmente encontrava-me nessa situação até à cerca de três meses.
Faço-lhe chegar estes dados na qualidade de futuro pai, uma espécie de anti-problema ou solução expôntanea à dúvida que colocou. Quis a natureza que a minha esposa engravidasse sem apoio médico, mas às nossas custas, foram gastos mais de 5.000€ e não fosse esta gravidez milagrosa íamos a caminho de gastar mais 5.000€ e depois mais 5.000€. Quantos casais podem fazer isto? Quase nenhuns e é aí que reside o problema, aliás, e não tome por negativas as minhas palavras, um milhão de problemas, todos portugueses, todos a quererem ter filhos.
Os apoios estatais oferecidos são escassos. No sistema de saúde os tempos de espera são longos, longos demais para um problema onde a idade não ajuda. O recente apoio à natalidade do governo propõe-se estimular um grupo de casais que não deseja ter filhos por questões variadas sob a forma de ajuda financeira. No entanto, os apoios fornecidos não conseguirão convencer a esmagadora maioria dos casais que se debatem com o custo de vida de ascensão galopante que temos vivido.
Respondendo directamente à sua pergunta, e sendo esta simplesmente a minha opinião, diria que o programa de apoio à natalidade não consegue cativar as dezenas de milhares de portugueses que por razões exclusivamente económicas decidiram não os ter e ao mesmo tempo não existe apoio aos casais que não os podendo ter por razões clínicas os desejam mais do que ninguém. Diria até que o recente anúncio de apoio à reprodução medicamente assistida não cobrirá a esmagadora maioria dos casais que vivem este problema.
Aqui fica a minha opinião sobre um assunto que conheço infelizmente bem demais. Tenho uma vã esperança que leia estas palavras de um futuro pai e que faça ouvir a nossa voz, porque apesar de sermos um milhão, somos incrivelmente mudos perante a sociedade portuguesa. Espero que encontre em nós a solução para o problema, porque nós queremos ser essa solução, mas a maioria simplesmente não pode.
Estou à sua inteira disposição para qualquer esclarecimento. O meu muito obrigado por ter lido estas linhas.
Para quem se considera um cidadão activo o suficiente para tomar um partido de uma causa justa, não se iniba de usar este blog, o meu nome e este texto para ajudar esta causa que é traumatizante para uma parcela considerável da população portuguesa e naturalmente prejudicial para o próprio país.
Ex.mo Sr. Presidente da Republica
No seguimento da questão colocada por V.Exa relativamente ao nascimento de poucas crianças em Portugal, faço-lhe chegar estas palavras pelo meio que me é mais conveniente, a Internet, para tentar esclarecer, ou pelo menos apresentar o meu ponto de vista, partilhado por dezenas de milhares de portugueses, escondidos pela estatística ou pela falta dela.
Admito que tenho pouca esperança que esta mensagem lhe chegue e admito também que espero uma mensagem de um assessor seu, a agradecer o meu contacto e pouco mais do que isto, mas pelo menos tentei cumprir o meu dever enquanto cidadão português, na tentativa de esclarecer a dúvida que compreendo que V.Exa tenha, porque a informação é escassa e a que existe, um espécie de tabu sujo e socialmente mal aceite.
Em poucas palavras: em Portugal existem 500.000 casais que sofrem de infertilidade, dos quais poucos terão hipótese de aceder aos cuidados médicos que fariam com que cerca de 400.000 desses casais tivessem filhos nas primeiras tentativas desses tratamentos. Não acedem a esses cuidados porque não têm dinheiro para o fazer. Sei do que falo, infelizmente encontrava-me nessa situação até à cerca de três meses.
Faço-lhe chegar estes dados na qualidade de futuro pai, uma espécie de anti-problema ou solução expôntanea à dúvida que colocou. Quis a natureza que a minha esposa engravidasse sem apoio médico, mas às nossas custas, foram gastos mais de 5.000€ e não fosse esta gravidez milagrosa íamos a caminho de gastar mais 5.000€ e depois mais 5.000€. Quantos casais podem fazer isto? Quase nenhuns e é aí que reside o problema, aliás, e não tome por negativas as minhas palavras, um milhão de problemas, todos portugueses, todos a quererem ter filhos.
Os apoios estatais oferecidos são escassos. No sistema de saúde os tempos de espera são longos, longos demais para um problema onde a idade não ajuda. O recente apoio à natalidade do governo propõe-se estimular um grupo de casais que não deseja ter filhos por questões variadas sob a forma de ajuda financeira. No entanto, os apoios fornecidos não conseguirão convencer a esmagadora maioria dos casais que se debatem com o custo de vida de ascensão galopante que temos vivido.
Respondendo directamente à sua pergunta, e sendo esta simplesmente a minha opinião, diria que o programa de apoio à natalidade não consegue cativar as dezenas de milhares de portugueses que por razões exclusivamente económicas decidiram não os ter e ao mesmo tempo não existe apoio aos casais que não os podendo ter por razões clínicas os desejam mais do que ninguém. Diria até que o recente anúncio de apoio à reprodução medicamente assistida não cobrirá a esmagadora maioria dos casais que vivem este problema.
Aqui fica a minha opinião sobre um assunto que conheço infelizmente bem demais. Tenho uma vã esperança que leia estas palavras de um futuro pai e que faça ouvir a nossa voz, porque apesar de sermos um milhão, somos incrivelmente mudos perante a sociedade portuguesa. Espero que encontre em nós a solução para o problema, porque nós queremos ser essa solução, mas a maioria simplesmente não pode.
Estou à sua inteira disposição para qualquer esclarecimento. O meu muito obrigado por ter lido estas linhas.
4 comentários:
Bem se as tuas esperanças são poucas as minhas são quase nulas, mas de qualquer forma vou por aqui o meu comentário na esperança remota que seja lido.
Toda a gente fala que a população portuguesa está envelhecida, as pessoas em idade activa cada vez são menos, a esperança média de vida cada vez é maior. Isto vai provocar um desequilíbrio nas contas do estado como é óbvio, poucas pessoas a produzir e muitas pelo direito de quem já trabalhou muitos anos, a usufruirem das reformas.
A recente liberalização do aborto ainda veio potenciar esta tendência negativa, sim sou contra o aborto mas cada um faz o que quer, não sou contra as pessoas que o fazem. Mas já agora como contribuinte que vejo o meu/nosso dinheiro a ser gasto em abortos gostava de ver o reverso da medalha, ou seja, que as pessoas que querem ter um filho sejam ajudadas para tal. No meu caso até tenho um ordenado acima da média portuguesa, contudo não é suficiente para pagar uma prestação de uma casa e ter o grande projecto "filho". O que acontece no meu caso como à maior parte dos portugueses é encontrar primeiro as condições de vida necessárias para ter um filho, e isso já acontece quando se está na casa dos 30 anos.
Obrigado por lerem o que escrevi.
E obrigado por teres participado. Também duvido que venha aqui alguém da Presidência de República ler, mas pelo menos o meu texto é uma transcrição e foi de facto contactada a instituição pelos métodos que disponibiliza. Não me ia fiar em exclusivo no blog né? :D
Em relação ao que escreveste. Basta fazer contas: aparecem 15.000 novos casais todos os anos com problemas de fertilidade. Se houvesse o mesmo investimento nesses 15.000 novos casos que há de custo para o Estado em relação ao aborto, 3/4 desses casais teriam um filho no primeiro ano.
Ou seja... mais ou menos 12.000 novas crianças a somar às que já nascem pelo mesmo custo financeiro das que o país ajuda a não nascerem.
Vlad, só para dizer que concordo contigo. Tudo bem que seja permitida a interrupção voluntária da gravidez (embora eu não concorde eticamente), mas apoiar a IVG financeiramente em vez de apoiar os casais que querem ter filhos... é um contra-senso às políticas de natalidade.
Espero que a tua mensagem chegue mesmo lá... é incrível como a política consegue ignorar o óbvio
Espero que isto lhe chegue às mãos de uma forma ou de outra. As pessoas muitas vezes esquecem-se ou não se querem lembrar desta realidade.
Enviar um comentário